Um Guia das Raças de Bovinos em Portugal

Portugal, terra de tradições ancestrais e paisagens diversificadas, abriga uma variedade de raças de bovinos que desempenham um papel crucial na agricultura e na identidade cultural do país. Desde as terras verdes do Norte até às vastas planícies do Sul, as raças de bovinos portuguesas destacam-se pela sua adaptabilidade, resistência e contribuição para a economia rural.

Em Portugal estão oficialmente reconhecidas 15 raças autóctones de bovinos: Alentejana, Algarvia, Arouquesa, Barrosã, Brava, Cachena, Garvonesa, Jarmelista, Marinhoa, Maronesa, Mertolenga, Minhota, Mirandesa, Preta, Ramo Grande. As 15 raças autóctones existem dispersas por todo o País, mas 12 delas em número reduzido sendo, por isso, consideradas em risco de extinção.

Raça alentejana

A raça Alentejana deriva de uma forma meridional do Bos primigenius, que se terá desenvolvido no sul da Península Ibérica e que terá emigrado para África, tendo regressado à Península Ibérica depois da última glaciação.

A área de dispersão desta raça é essencialmente a zona Alentejana, distritos de Portalegre, Évora, Beja e alguns concelhos do distrito de Setúbal.

Raça Alentejana

Raça Algarvia

Em 1981, refere-se uma transformação na bovinicultura ligada à raça Algarvia, nomeadamente os cruzamentos efetuados com outras raças como Limousine e Charolês. Estes animais cruzados denominam-se “Chamuscos”.

Raça Algarvia

Raça Arouquesa

A raça bovina Arouquesa define-se como uma raça local de montanha, uma vez que permanece praticamente circunscrita às encostas montanhosas entre os vales do Vouga ao Douro, região onde teve origem e onde continua a ser explorada pelos seus criadores.

A região geográfica onde existe o maior número de bovinos da raça arouquesa são os concelhos de Cinfães, Castro Daire, S. Pedro do Sul, Arouca, Vale de Cambra, Resende e Castelo de Paiva a sul do rio Douro e Baião, Amarante e Marco de Canaveses a norte do mesmo rio.

Raça Arouquesa

Raça Barrosã

Alguns autores referem a existência, no Norte de África (Vale do Nilo), de animais com características morfológicas semelhantes à atual raça Barrosã. Estes terão chegado à Península Ibérica através de várias rotas migratórias dos povos norte-africanos.

Presente no Noroeste de Portugal desde tempos imemoriais, a raça Barrosã é o resultado de séculos de seleção e adaptação a que foi sujeita, tanto pelo ambiente agreste que caracteriza esta zona, como pelos usos e costumes dos povos que aí habitam.

Raça Barrosã

Raça Brava de Lide

A origem da raça Brava reporta ao toiro bravo Bos taurus primigenius – o Uro ou toiro selvagem do neolítico, o qual subsistiria até ao séc. XVI nalgumas regiões, sendo um dado adquirido que o abate do último exemplar ocorreu em 1630 na Polónia.

A raça Brava de Lide tem como área de exploração algumas regiões bem tipificadas, não só do Continente (Alentejo; Ribatejo e Oeste; Beira Interior e Beira Litoral) mas também dos Açores.

Raça Brava de Lide

Raça Cachena

A raça Cachena, pelas suas caraterísticas e localização, deverá ter evoluído a partir dos mesmos animais que deram origem à raça Barrosã, que, ao longo dos últimos séculos, foram selecionados naturalmente para conseguir sobreviver em condições adversas de alimentação e clima. Nestas condições só sobreviveriam os animais mais rústicos, com menores necessidades alimentares, capazes de passar os rigorosos invernos na serra e sem necessidade de qualquer intervenção humana no processo reprodutivo. Assim, terá surgido uma raça de pequeno porte, resistente, de aspeto grosseiro e temperamento bravio.

Raça Cachena

Raça Carvonesa

Os bovinos garvoneses num passado mais remoto predominavam nas zonas de transição entre as planícies do Sul, os territórios da raça Alentejana e as serras a que correspondia o solar da raça Algarvia.

Hoje, os rebanhos de raça garvonesa distribuem-se principalmente pelos concelhos de Santiago do Cacém, Odemira, Ourique e Castro Verde, Almodôver, Barrancos, Vila Nova de S. Bento e Alcáçovas.

Raça Carvonesa

Raça Jarmelista

A raça Jarmelista é uma raça originária do Jarmelo no concelho da Guarda e foi a última raça autóctone portuguesa a ser reconhecida. Em 2007 esteve em risco de extinção. No entanto graças uma parceria entre associações agrícolas, produtores e entidades competentes, existem hoje 30 produtores e 500 animais que asseguram a sua sobrevivência.

Raça Jarmelista

Raça Marinhoa

O nome Marinhoa deriva da região onde esta raça bovina se encontra, predominantemente na bacia hidrográfica do Rio Vouga, designada por “Marinha”. Esta raça pode ser encontrada nos concelhos dos distritos de Aveiro e Coimbra.

Raça Marinhoa

Raça Maronesa

A origem do Maronês dever-se-á ao cruzamento entre duas raças a Barrosã e a Mirandesa. Atualmente, pelos resultados que se têm encontrado em vários trabalhos científicos pensa-se que a raça descende do Bos primigenius, que povoou a Península Ibérica quando do primeiro movimento dos bovinos em estado selvagem.

A raça Maronesa é definida como uma raça local, primitiva, natural e de montanha. O seu nome oficial responde à toponímia da região mais conhecida, a Serra do Marão. Contudo, mais apropriado seria o nome de Alvanesa por ser na Serra do Alvão o seu verdadeiro solar.

Raça Maronesa

Raça Mertolenga

A raça bovina Mertolenga é proveniente de Mértola e de Alcoutim. Foi a partir destas zonas, que a raça, capaz de se adaptar a solos rochosos e de escasso alimento, se dispersou pelas regiões do Altentejo e Ribatejo.

Raça Mertolenga

Raça Minhota

A designação oficial da raça corresponde à toponímia da região tradicional de produção, o Entre Douro e Minho, na qual se insere o seu solar e onde se encontra a maior parte do efectivo da raça. Ao longo da sua história a raça foi designada por “Minhota ou Galega”.

Raça Minhota

Raça Mirandesa

O nome de “raça bovina Mirandesa” deve-se à toponímia de Miranda do Douro, ou Terras de Miranda, o centro de irradiação da raça para outras regiões. A primeira referência bibliográfica da Raça Mirandesa data 1286, feita por D. Dinis.

Raça Mirandesa

Raça Preta

A partir de meados do século XIX aparece inventariada uma população bovina sob a designação de “Gado Charnequeiro do Sul do Tejo”, surgindo mais tarde outras duas designações de “Gado da Terra” e “Gado Preto”.

No início da década de oitenta, a introdução no nosso país de raças exóticas provocou uma redução substancial da população de bovinos Pretos. Mantendo-se durante alguns anos a tendência de redução generalizada dos efetivos, a raça Preta chegou a ser considerada em vias de extinção.

Raça Preta

Raça Ramo Grande

Com o povoamento do arquipélago dos Açores no século XV vieram bovinos de diversas regiões do Continente que, devido às caraterísticas insulares e ao isolamento geográfico, adquiriram especificidades próprias e deram mais tarde origem aos bovinos Ramo Grande. Os primeiros povoadores da ilha Terceira eram de origem Minhota e Algarvia.

Raça Ramo Grande

Apesar dos desafios enfrentados pela agricultura moderna, a preservação das raças bovinas tradicionais de Portugal continua a ser uma prioridade para os criadores e para as autoridades locais. Programas de conservação genética e incentivos à criação de gado de raças autóctones têm sido implementados para garantir a sobrevivência e a sustentabilidade destas populações animais únicas.

Em conclusão, as raças de bovinos de Portugal representam não só uma importante fonte de subsistência e de sustento para as comunidades rurais, mas também um património cultural e natural de valor inestimável. Da força e tradição do Norte à beleza e resistência do Sul, estas raças destacam-se pela sua diversidade e pela sua contribuição para a riqueza da paisagem rural portuguesa.

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